Terapia Hormonal: Benefícios, Riscos e Indicações
A terapia hormonal alivia sintomas da menopausa, protege a saúde óssea e oferece benefícios significativos, mas requer avaliação individualizada dos riscos, como tromboembolismo e aumento do risco de câncer após uso prolongado.
Dra. Bárbhara Cotta


A terapia hormonal (TH) representa um dos avanços mais significativos no tratamento dos sintomas da menopausa e de outros desequilíbrios hormonais. No entanto, continua sendo objeto de debates, estudos e, por vezes, informações contraditórias. Este artigo tem como objetivo apresentar uma visão abrangente e baseada em evidências científicas sobre esse importante recurso terapêutico.
O que é a Terapia Hormonal?
A terapia hormonal, anteriormente conhecida como terapia de reposição hormonal (TRH), consiste na administração de hormônios para substituir aqueles que o corpo deixou de produzir em quantidades adequadas. No contexto da menopausa, refere-se principalmente à reposição de estrogênio e, quando necessário, progesterona.
Como Funciona a Terapia Hormonal?
O mecanismo de ação da TH baseia-se na reposição dos hormônios que naturalmente diminuem durante a perimenopausa e menopausa. O estrogênio atua em receptores específicos distribuídos por todo o corpo, incluindo cérebro, ossos, sistema cardiovascular, pele e sistema urogenital. A progesterona, quando incluída no tratamento, tem como principal função proteger o endométrio (revestimento interno do útero) do crescimento excessivo que poderia ser estimulado pelo estrogênio isolado.
Principais Tipos de Terapia Hormonal:
Estrogênio isolado (ET): Recomendado apenas para mulheres que realizaram histerectomia (remoção do útero).
Estrogênio + Progestagênio (EPT): Combinação indicada para mulheres com útero intacto.
Tibolona: Esteroide sintético com propriedades estrogênicas, progestagênicas e androgênicas.
Estrogênios conjugados + Bazedoxifeno: Combinação que associa estrogênios com um modulador seletivo dos receptores de estrogênio (SERM).
Formas de Administração:
Oral: Comprimidos tomados diariamente
Transdérmica: Adesivos ou géis aplicados na pele
Vaginal: Cremes, comprimidos ou anéis vaginais
Implantes subcutâneos: Inseridos sob a pele, liberam hormônios gradualmente
Injetável: Aplicações periódicas de preparações hormonais
Para Quem é Indicada a Terapia Hormonal?
A TH é principalmente indicada para:
Mulheres com sintomas vasomotores moderados a graves: Ondas de calor (fogachos) e suores noturnos que interferem significativamente na qualidade de vida.
Síndrome geniturinária da menopausa: Secura vaginal, atrofia vaginal, desconforto durante relações sexuais e sintomas urinários.
Prevenção de osteoporose: Em mulheres com alto risco de fraturas e que não podem utilizar outras medicações para osteoporose.
Menopausa precoce ou insuficiência ovariana prematura: Mulheres que experimentam menopausa antes dos 40 anos.
Sintomas de deficiência hormonal em outras condições: Como após ooforectomia (remoção dos ovários).
A idade ideal para início da TH é geralmente antes dos 60 anos ou dentro de 10 anos após o início da menopausa, período conhecido como "janela de oportunidade".
Benefícios da Terapia Hormonal
Alívio dos Sintomas Vasomotores
Estudos demonstram eficácia de 75-90% na redução da frequência e intensidade dos fogachos e suores noturnos, muitas vezes com melhora perceptível nas primeiras semanas de tratamento.
Melhora dos Sintomas Urogenitais
A TH, especialmente quando administrada localmente, promove:
Aumento da lubrificação vaginal
Melhora da elasticidade dos tecidos
Redução da frequência e urgência urinárias
Diminuição do risco de infecções urinárias recorrentes
Saúde Óssea
A terapia hormonal:
Reduz a taxa de perda óssea
Diminui o risco de fraturas vertebrais e de quadril em aproximadamente 30%
Ajuda a manter a densidade mineral óssea
Possíveis Benefícios Adicionais
Redução do risco de diabetes tipo 2
Melhora do perfil lipídico quando iniciada precocemente
Possível efeito protetor contra doença de Alzheimer quando iniciada próximo à menopausa
Melhora de alterações de humor, qualidade do sono e função cognitiva
Preservação da massa muscular
Riscos e Efeitos Adversos
Risco Cardiovascular
Em mulheres mais jovens (50-59 anos): risco cardiovascular possivelmente reduzido ou neutro
Em mulheres mais velhas ou com mais de 10 anos de menopausa: possível aumento do risco de eventos cardiovasculares, especialmente nos primeiros 1-2 anos de uso
Tromboembolismo Venoso
Risco aumentado, principalmente com formulações orais
Via transdérmica associada a menor risco trombótico
Risco de Câncer
Câncer de mama: Pequeno aumento do risco com terapia combinada por mais de 3-5 anos
Câncer de endométrio: Risco reduzido com terapia combinada; risco aumentado com estrogênio isolado em mulheres com útero
Câncer de ovário: Possível pequeno aumento após uso prolongado
Câncer colorretal: Possível efeito protetor
Outros Efeitos Adversos
Sangramento vaginal irregular (principalmente nos primeiros meses)
Sensibilidade mamária
Náuseas (mais comum com formulações orais)
Dores de cabeça
Retenção de líquidos
Contraindicações Absolutas
A terapia hormonal não é recomendada para mulheres com:
Câncer de mama atual, recente ou suspeito
Sangramento vaginal não diagnosticado
Tromboembolismo venoso ativo
Doença hepática aguda
Porfiria
Hipersensibilidade conhecida aos componentes
Doença coronariana instável
História de acidente vascular cerebral
Câncer de endométrio (exceto em casos especiais)
Mitos e Verdades sobre a Terapia Hormonal
Mito 1: A terapia hormonal causa câncer de mama em todas as mulheres
Verdade: O risco varia conforme o tipo de terapia, duração e fatores individuais. A terapia combinada por mais de 5 anos está associada a um pequeno aumento do risco, enquanto o estrogênio isolado (em mulheres sem útero) pode até reduzir esse risco.
Mito 2: Uma vez iniciada, a terapia hormonal deve ser continuada para sempre
Verdade: A duração deve ser individualizada. Para muitas mulheres, 3-5 anos são suficientes, enquanto outras podem se beneficiar de tratamentos mais longos, especialmente aquelas com menopausa precoce.
Mito 3: Terapia hormonal e anticoncepcionais são a mesma coisa
Verdade: São completamente diferentes em composição e dosagem. Anticoncepcionais contêm doses muito mais altas de hormônios e são formulados para inibir a ovulação.
Mito 4: Terapias "bioidênticas" manipuladas são sempre mais seguras
Verdade: Não há evidência científica de que hormônios bioidênticos manipulados sejam mais seguros ou eficazes que os aprovados por agências reguladoras. Além disso, podem apresentar problemas de padronização e qualidade.
Mito 5: A terapia hormonal engorda
Verdade: Embora possa haver retenção hídrica inicial, estudos não demonstram ganho de peso significativo associado à TH. Na verdade, pode ajudar a manter melhor distribuição da gordura corporal.
Mito 6: Se os sintomas da menopausa são leves, não há benefício na terapia hormonal
Verdade: Mesmo com sintomas leves, alguns benefícios sistêmicos podem justificar seu uso, como proteção óssea e melhora da qualidade de vida.
Mito 7: Após os 65 anos, a terapia hormonal é sempre perigosa
Verdade: Embora o início da TH após os 65 anos geralmente não seja recomendado, a continuação em mulheres saudáveis que iniciaram o tratamento mais cedo e ainda se beneficiam dele pode ser apropriada após avaliação cuidadosa de riscos e benefícios.
Considerações Finais e Individualização do Tratamento
A decisão sobre iniciar ou não a terapia hormonal deve ser sempre individualizada, considerando:
Intensidade dos sintomas
Idade e tempo desde a menopausa
Riscos pessoais e familiares
Preferências da paciente
Outras condições médicas coexistentes
É fundamental que a paciente participe ativamente desta decisão, sendo informada sobre todos os potenciais benefícios e riscos. O acompanhamento regular e a reavaliação periódica são essenciais para ajustar a terapia conforme necessário e garantir sua segurança a longo prazo.
A terapia hormonal, quando apropriadamente prescrita e monitorada, continua sendo uma opção terapêutica valiosa para muitas mulheres na menopausa, proporcionando alívio sintomático e potenciais benefícios à saúde que podem melhorar significativamente a qualidade de vida.
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